quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A banalização das relações humanas



Luis Cláudio e Mariana se conheceram numa tarde chuvosa de julho de 2000. Numa sala de bate-papo de um grande portal da web.

Ambos estavam de férias e entediados devido a chuva que insistia em cair naquela semana. Não havia nada para se fazer, a não ser navegar na internet.

Ele era estudante de engenharia e ela, de odonto. Ele tinha 23; ela, 21. Ele já estava habituado àquele ambiente. Ela, participava pela primeira vez. Entraram, respectivamente, como Ludi_23/sp e Mary.79. Ele tomou a iniciativa. Conversaram durante a tarde toda. Trocaram e-mails.

Ficaram se correspondendo por duas semanas até decidirem marcar o primeiro encontro.. não-virtual. Ele se apaixonou na hora. Ela gostou, porém, com ressalvas. Nos três meses seguintes, ficaram trocando e-mails diariamente. Ele a pediu em namoro através de uma telemensagem; ela, aceitou com um torpedo no celular.

Seis meses depois, quando ele precisou viajar por causa do trabalho, resolveram criar um blog juntos, para postarem fotos e declarações de amor. Além disso, se falavam pelo MSN todo fim de semana. Inclusive, foi através dessa ferramenta que, no final de 2002, ele a pediu em casamento. Ela aceitou, entre lágrimas e soluços, com um beijo na webcam.

Todos os convidados, padrinhos inclusos, foram notificados por e-mail, no qual já se encontravam os links de três sites com a lista de presentes e exigia confirmação imediata do seu recebimento.

Tudo relacionado ao casamento e a festa, foi escolhido pela web. Desde a igreja até a decoração e o buffet. As passagens para a lua-de-mel?! Compradas com desconto no site de uma grande (?!) companhia aérea, com direito a check-in virtual.

Para o financiamento da casa, mobília e do carro, Luis Cláudio resolveu tudo por telefone com o gerente do seu banco. Mariana fez uma simulação de decoração da casa num site especializado. Gostou tanto do resultado que o contratou com um clique.

Em 2006, para comemorar as bodas de couro do casal e tentar reavivar o relacionamento, Mariana sugeriu criarem um perfil conjunto no Orkut. Ele ensaiou uma negativa, mas acabou concordando. Adicionaram amigos, incluíram fotos e vídeos de viagens.

Nos dois anos seguintes, a relação se desgastou bastante. Quando ele saía para o trabalho, ela ainda estava dormindo; e, quando chegava à noite, ela já estava na cama. Falavam-se mais por vídeo-chamada e SMS do que pessoalmente. Na verdade, para ele, ela cada vez mais estava ficando gorda, igualzinho a sua sogra. E, para ela, ele estava cada vez mais ficando careca e monossilábico, igualzinho ao seu pai.

No final de 2008, Mariana descobriu que ele mantinha um perfil pessoal no Orkut. E pior: repleto de perfis de mulheres, além de recadinhos com números de telefone e e-mails. Na certeza de que ele a traía, Mariana resolveu colocar alguns vídeos de suas aulas de dança do ventre no YouTube. Quando ele descobriu, por meio de um amigo, ficou horrorizado. Se não a traía antes, decidiu que aquela era a deixa.

Há quatro meses, Mariana interceptou uma mensagem muito comprometedora que a amante de Luis Cláudio mandou no celular desse. Foi a gota d’água! Pela webcam, no seu escritório, Luis Cláudio tentava, em vão, se explicar.

Hoje, já não mais dividindo a mesma cama, eles se preparam para ser um dos primeiros casais a "experimentar" o divórcio via web.

E onde mais vocês acharam que essa história iria terminar?!


H (acreditem ou não, isso aconteceu..)

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